FIM DO MISTÉRIO

  • FIM DO MISTÉRIO: PEÇA COM SUÁSTICA ERA DE MULTINACIONAL DE COMBUSTÍVEIS

    Assunto: Cultura  |   Publicado em: 29/09/2022 às 08:30   |   Imprimir

A pesquisa sobre a origem de uma peça com suástica pertencente ao acervo do Museu Alcir Philippsen, situado no município de Santo Cristo, na região noroeste do RS, já chegou a algumas conclusões, apesar de o resultado não ter sido divulgado oficialmente. O professor do Programa de Pós-Graduação em História Edison Hüttner, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que estuda o objeto há mais de um mês em Porto Alegre, antecipa algumas respostas e desvenda o mistério.

— O tonel não é nazista, mas poderia, sim, ter sido utilizado pelos nazistas. Era da empresa Shell Mex Argentina, que, no começo, usava o símbolo de uma suástica budista. Depois, quando viram que o Partido Nazista de Adolf Hitler começou a fomentar a guerra, tiraram a suástica e colocaram uma concha no lugar — explica o docente, que vai apresentar as conclusões de sua investigação em 4 de outubro, no museu do município do interior gaúcho, quando o latão será exibido ao público.

A pesquisa acerca do tonel, que possui 62 centímetros de altura e 32 centímetros de largura, lembrando um tambor de leite antigo, foi solicitada ao docente pelo diretor do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico de Santo Cristo, Bruno Rafael Machado, que pretende identificar e catalogar a peça do acervo. A polêmica em torno do latão ocorre em função de a suástica estampada em sua superfície ter certa semelhança com a usada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

— O que estamos percebendo é que esse tonel poderia, sim, ter servido como um instrumento de abastecimento de navios e submarinos. Mas não temos documentos para provar — afirma o pesquisador, esclarecendo que a suástica do tonel é virada para o lado esquerdo, enquanto que a nazista aponta para o outro lado e ainda possui uma inclinação de 45 graus. Segundo Hüttner, o latão pesquisado foi fabricado entre 1931 e 1933.

— Esses tonéis participaram, naturalmente, do contexto da Segunda Guerra Mundial — observa. — Não foram destruídos ou descartados depois que a Shell passou a usar o símbolo da concha em 1933 — acrescenta.

No tambor pesquisado, existem cinco suásticas representadas dentro de um círculo, em alto-relevo. Quatro se encontram ao redor do tambor, enquanto uma está localizada na parte de baixo da peça. A forma budista, conforme o pesquisador, representa a “misericórdia infinita”.

Apesar de sua pesquisa concluir que o tonel não é de fabricação nazista, a hipótese de que tenha participado de algum fato da Segunda Guerra Mundial ainda é mantida pelo docente, como o episódio envolvendo o afundamento do navio alemão Almirante Graf Spee, que é mencionado no material do estudo. A embarcação nazista foi perseguida por três cruzadores britânicos — Exeter, Ajax e Aquiles. Em 13 de dezembro de 1939, durante a Batalha do Rio da Prata, o navio da Alemanha foi bastante danificado. O capitão Hans Langsdorff conduziu a embarcação até o porto de Montevidéu, no Uruguai, onde permaneceu por três dias. No dia 17, decidiu afundar o barco para os inimigos não terem acesso à tecnologia empregada no navio e se suicidou dias depois, em um hotel de Buenos Aires, na Argentina.